segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Tchê de bombacha, tu não te abaixa!

No 2º Aparte da Canção Nativa, mais um cachoeirense foi vencedor com uma canção que virou hit do conjunto Os Mirins
Jaime Soares Júnior
Se na primeira edição do Aparte da Canção Nativa, em março de 1989 o cachoeirense Jaime Brum Carlos sagrou-se campeão homenageando ao conterrâneo Edson Fernando Ferreira Lima, o Negro Lima, na segunda edição do festival foi a vez de outro artista local brilhar: Jaime Soares Júnior! E com um tema que segue atual: Tchê de Bombacha.
A parceria com o poeta Vaine Darde foi um sucesso. “Cantei na primeira noite e o público veio abaixo. Gostou muito. Na segunda noite já tinha até faixa e torcida organizada na arquibancada do Arrozão”, destaca Jaime Júnior, hoje proprietário de um jornal em Florianópolis e com esporádicas apresentações musicais na noite da capital catarinense.
O seu Elêm Cavalheiro Bartmann me avisou que ia fazer a segunda edição do Aparte e queria que os compositores cachoeirenses mandassem música. Eu era amigo do seu Elêm e até tocamos uma ou outra vez juntos. Ele era gaiteiro, ótima pessoa. Quando vi que o Aparte voltou só pensei na alegria que ele deve sentir lá onde estiver”, relata.
Motivado pela conversa, ele pediu para o poeta Vaine Darde escrever algo que ele pudesse gravar para triagem do Aparte. “Era uma época difícil como agora, o peão de campo perdendo emprego, uma crise danada na agricultura e pecuária e no País. Tanto que a letra continua atual, 25 anos depois”, argumenta. A música foi classificada e o cantor buscou o grupo Fandangaço, de Pantano Grande, para acompanhá-lo. “Fizemos dois ensaios e uns ajustes no dia da apresentação e ganhamos o festival concorrendo com as feras da época: Daniel Torres, Miguel Marques, Grupo Parceria, Antônio Gringo. Gente que dominava a premiação nos festivais”, lembra sorridente. “Tem um sabor especial vencer em casa”, emenda.
Meses depois, o conjunto Os Mirins gravou um CD e colocou a música, que também deu título ao trabalho. “A música estourou, fez muito sucesso. Tocou em tudo quanto foi rádio. Aliás, os dois discos do Aparte são muito bons e merecem ser resgatados”, enfatiza. Júnior gravou um CD chamado “No ritmo do motor”, com seis poesias e seis músicas, em parceria com artistas catarinenses e uma linguagem universal, mais pop.
Confesso que estou desatualizado sobre o nativismo, muito absorvido pelo trabalho que estamos fazendo aqui. Recentemente andei fazendo uns temas com o Nilo Bairros de Brum, que venceu a primeira Vigília, sobre a Guerra do Contestado, mas está fora do perfil de música para mandar pro Aparte, por isso desta vez não vou inscrever nada, mas vou torcer muito por quem passar e pelo sucesso do festival. Que tenha vida longa. Quem sabe pro ano que vem não surge alguma música para enviar”?

HOMENAGEM
Jaime Soares Júnior teve estreita relação com o idealizador do Aparte da Canção Nativa, Elêm Cavalheiro Bartmann, bem como o patrão do CTG José Bonifácio Gomes na época, Ramiro Leal dos Santos, e o presidente do Sindicato Rural de Cachoeira do Sul, Ernani Almeida. “Acho que a volta do Aparte é uma homenagem justa pra essas pessoas que fizeram o festival e que sempre batalharam pela cultura e pelo município, em sí”, enfatiza.
O cantor que venceu o 2º Aparte da Canção Nativa participava de rodeios e concursos pelo CTG José Bonifácio Gomes, quando o patrão era Elêm Cavalheiro Bartmann. “Fomos para o Festival do Mobral, hoje Enart, e vencemos o primeiro. Depois concorremos no Fegart. Em grupo de danças o CTG se tornou hors concurs, e eu venci na categoria de intérprete vocal”, informa. Depois participou do grupo de projeção folclórica Reminiscências, do saudoso Cláudio Roberto Xavier Engler, idealizador da Vigília do Canto Gaúcho.

Tchê de Bombacha
L: Vaine Darde
M: Jaime Soares Júnior
Interprete: Jaime Júnior e Fandangaço

Tchê de bombacha, Tchê de bombacha,
Tchê tu não te abaixa;
Mantenha as mãos firme nas rédeas
Porque agora é no vai ou racha!
Tão querendo botar freio , tchê,
No nosso bagual de raça!

O guasca peleja as vacas de forma a virar dinheiro
Mas ao abrir a guaiaca não sobra nem pro puchero,
E quando chega o fim do mês falta os pilas pro palheiro;
Se esfola todo na lida e vai calejando as mãos
Consumindo a própria vida na velha sina de peão,
Desse jeito o qüera finda changueando só pelo pão!

Ninguém vive de esperança, nem se mantém com promessa
Quem espera nunca alcança, quem quiser faça, não peça;
E a miséria só termina, onde a justiça começa.
Já é hora do gaudério, exigir o que é seu,
E lavar a coisa a sério, como outrora aconteceu,
Pois desse jeito o gaúcho, vai ser peça de museu! 

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